Durante 3 semanas convivi de perto com moradores de rua em Teresópolis , descobri com espanto uma realidade paralela , um mundo surreal , quase uma sociedade dentro da sociedade, com suas próprias regras e leis. Um mundo machucado , uma ferida aberta nas ruas de nossa cidade
Por sinal este era inicialmente o objetivo da reportagem, , mostrar os malefícios que os moradores de rua podem fazer a uma cidade autodenominada "Turística" , e confesso não são poucos , afinal qual turista gosta de se deparar com alguém comendo lixo, dormindo ao relento agarrados aos seus poucos pertences ou cheirando produtos químicos e usando qualquer outro tipo de entorpecente nas esquinas da cidade em plena luz do dia ???
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Durante este tempo , percebi que o problema é .mais amplo , e a crescente população de rua de Teresópolis tem muito a dizer , mesmo falando pouco , e mostra a olhos vistos no que a cidade pode se transformar daqui a poucos anos, mostra a omissão de toda sociedade e do poder público , diante da situação.
Resolvi não citar nomes , por sinal muito difíceis de conseguir , mais fácil ouvir suas histórias de vida , ou então apenas seus desabafos que acabam revelando muito mais que :
"Moro na rua"...
Junto a eles , é fácil notar o porque da agressividade de muitos , a passividade de outros e a falta de esperança de todos... Algumas palavras simplismente foram banidas do cotidiano destas pessoas , solidariedade, confiança , piedade auto estima, amor próprio, respeito , dignidade e principalmente limites. Essas palavras já não existem para estes cidadãos.
Descobri com espanto através deles próprios que além dos moradores de rua habituais que já residiam em nossa cidade , que pelo menos 3 deles , são ex detentos, recém saídos do sistema prisional e que dividem o espaço onde crianças brincam na Praça Baltazar da Silveira .Um pelo Artigo 157 do CP ( Assalto a mão armada ) e dois pelo artigo 121 do CP ( Homicídio ) !! Assustador ??? Em uma conversa que tive com um deles foi mais fácil fazer com que ele contasse em detalhes mórbidos o assassinato de uma rapaz a facadas por causa de dois Reais , crime pelo qual ficou preso por dois anos voltando as ruas a menos de um mês , retornando então a sua antiga moradia "A Praça " Como eles a chamam , que descobrir seu nome
A maior parte destes moradores são usuário de drogas ilícitas , todos dependentes do álcool. "... Só assim para aguentar o tranco das ruas ..." Afirmava um rapaz de pouco mais de 20 anos enquanto enrolava um cigarro de maconha as 4 horas da tarde na " Praça olímpica".
A Rua padre Tintório ao lado da Praça Baltazar da Silveira é um conhecido reduto para os usuários, Viramos uma rota de fuga ,deles , vieram para cá fugindo de antigas dívidas de drogas ! "... A cidade é pacata e o povo não deixa a gente passar fome..." me confessou um destes " fugitivos' da violência da cidade grande , ex morador do Jacarezinho encontrou em Teresópolis refúgio...
Só ouvi da Secretaria de Assistecia social uma resposta , : " ...Eles não querem sair da rua , não podemos fazer nada ..."
Porém , Uma das poucas unanimidades neste mundo paralélo . onde encontrei , assassinos, viciados , ex professores etc.. Cidadãos com um passado e nenhum futuro !
Todos sem exceção quando perguntados sobre futuro , não tinham resposta, quando perguntados sobre desejo a resposta foi unanime : "...Quero mudar de vida , rua não é lugar para viver..."
Aí cabe a pergunta : De quem é a culpa ?
Qual a responsabilidade civil e qual a responsabilidade do Poder Público ?
A pergunta persiste Quem é o responsável ???
Uma coisa é certa : A tendência é o problema se agravar e perdermos de vez o controle...